Lehgau-Z Qarvalho
Pensava em inventar um planeta. Um para onde pudesse ir sem deixar vestígios. Sabia que morrer é só não ser visto. Lera. E sabia, também, que só ser visto não é viver. Sentira. Sabia que tudo que lhe restava era nada mais restar. E sabia que tudo se dividia enquanto um resto, na pia, por completo, se ia. Sabia. Que não saber, também, parte do saber fazia, sabia. E inventava ser. Intentava compreender por que viver tinha de ser uma agonia. Não era. Não via.
Odiou-se minucioso: sua identidade, suas necessidades físicas, seus vícios animais, sua apatia. Odiou sempre, tudo, uma vez por dia. Caminhava sedento atrás de algo. Clamava; esse algo não ouvia. Sabia que o universo é de algum modo um cosmos, uma ordem. Ou pode ser um erro, ou uma ficção de um conhecimento parcial. Sabia que talvez tudo fosse muito mais difícil. De que valeria?! Ou tão genial quanto o que em um instante, de repente, se vê, e antes não se via. Gritava; ninguém respondia.
E escrevia. Jazia prosa em melodia. Poesia?! Não interessava, nem sabia. Vertia.
Até que o momento chegou. Olhou a si como quem olha a outrem; posicionou-se entre o mal e o bem; cuspiu para o lado para não dar nada errado.
Pensou mesmo se ia; se era em si, dó, algo em sol, ou de si breve alegoria, mesmo se mínima consistia.
Abandonou a idéia do planeta. Dos modos de existir, entendeu que etéreo seria ideal; Posicionou-se, então, entre o extraordinário e o banal; e transformou-se em uma nota musical.
sábado, março 29, 2008
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3 comentários:
Que encantada melodia, com a luz do outono e ritmada em poesia.
Emocionada.
M�gico das palavras, comeste todos os confeitos de castanha, hein?!
Lehgau, gostei!
Lembrei-me do meu poemHela:
"Semibreve
Um silêncio semibreve,
a me dizer: sê mínima."
hela.
http://helamor.multiply.com/journal/item/7/Semibreve
Abçs..
Deliciosamente musical! Delicioso como o resto todo... lindo, sublime, denso, inteligente, inspirado: como sempre!... Genial...
Beijo
Linda
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