terça-feira, novembro 06, 2007

Surpresas coronarianas

Por Lehgau-Z Qarvalho


Foi da China que veio o macarrão. O dia havia sido ameno, tranqüilo, feliz na medida do possível. Foi levado para a Itália pelo mercador veneziano Marco Polo, no século 13; o mesmo que levou o sorvete para o Ocidente. E ao cair da noite, sentiu-se estranho; optou pela fome. A etiqueta chinesa orienta que todos aqueles que estão à mesa sirvam uns aos outros. E ele jantava ao relento, só, em meio a leituras de feira. Todos devem comer sentados, seguindo a ordem: homens, mulheres, velhos e jovens. Ouvia blues em seu mp4. Copo vazio deve ser imediatamente preenchido com bebida. Sorvia em goles módicos, água mineral sem gás e café puro. Para esse povo, o ato representa um sinal de respeito. O livro aberto sobre a mesa de toalhas brancas; característica do lugar, a alvura das toalhas. Não se deve deixar comida no prato, isso representa uma grande indelicadeza com o anfitrião. Um bistrô dentro de um museu de artes. Deve-se tomar sopa fazendo barulho. O espaguete com seus queijos, em número de quatro, cobria, ao fundo do prato, a surpresa. Isso significa um elogio. E, remexendo vago no conteúdo da ceia, descobriu-se perplexo ao sentir seus batimentos cardíacos em franca ascensão rítmica, ao perceber o filé por debaixo das massas e dos molhos. Quer dizer que a refeição está muito boa. Foi quando o telefone tocou.

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