quarta-feira, novembro 14, 2007

Quartos

Lehgau-Z Qarvalho


Minuciosa e detalhista, nada era deixado ao acaso, tudo possuía um porquê de ali estar. Prateleiras para livros e outros objetos se faziam primordiais para que ela conseguisse se encontrar em meio aos seus muitos pertences. Móveis laqueados eram os de sua preferência, evidentemente, sempre com certa linearidade para transmitir segurança e ordem. Em seu quarto, bem como no restante de casa, os beges, areias, azuis-claros e toda uma gama de cores em tons pastel reinavam sóbrios, bem como a total simetria. Sim, a imprescindível dignidade das coisas em seu lugar. Uma depois da outra; jamais os contrários. À noite, quando o sono chegava, a angustia da desordem precipitava-se. Como dormir sem desarrumar a cama? E daí a insônia. Durante o dia, em seus horários de folga, podia passar horas em arrumações sem fim. Aliás, um dos seus maiores prazeres. Ou dedicava-se a descobertas de leituras úteis. Sempre as úteis. E um delírio digital.

Em seu quarto, ele antecipava a noite e a prolongava sem fim. Templo secreto, lugar roubado, o quarto recusava a luz do exterior para criá-la à sua maneira em sua interioridade. Cheio de contrastes, como eram seus sentimentos e racionalidades, ele mesclava cantos vazios com espaços repletos de elementos; materiais sedosos em forrações aveludadas, com texturas ásperas. Nas cores escarlates e sombrias, no seu templo de contrastes, e o centro de magia necessário ao desenvolvimento de seus sonhos mais profundos, pulsavam suas coleções de nadas significativos. Sensualidade à flor da pele, não dispensava uma sedutora chaise-longue escondida por um biombo sensual. E uma lágrima que não vinha.

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