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Soraia morava em uma caixa. Todos os dias tinha de cuspir no copo para
ter o que beber, e fazer outras coisas para ter o que comer. Soraia era ela
mesma, mas queria ser outra pessoa. Soraia teria morrido não fosse pelo fato de
não ser outra pessoa. Mas ela nunca soube disso. Soraia tivera um amor, um vaso
de flores e três idas ao supermercado por semana. Soraia morara, por um tempo,
em um bolso de paletó. Passeava, sorria e mexia nos cabelos. Tudo de lá de
dentro. O que Soraia gostava mesmo era de habitar um umbigo; o próprio. Nas
horas de folga, e nas outras também. Soraia, desde criança, brincava com
bonecas, espelhos, cabos de vassoura e sentimentos alheios.
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2 comentários:
Tem gente que, não suportando viver em meio a sujeira do próprio umbigo, se atreve a intrometer-se no dos outros.
Os que conseguem ao menos isso já estão no lucro. 8)*
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