Conheci Lola durante o período de férias de inverno. A noite
já chegava quando paramos para descansar.
“De que escritoras contemporâneas você mais gosta?!”,
perguntei ofegante, dando continuidade ao assunto.
“Nenhuma! Não leio escritoras contemporâneas.”
“Como assim: você não lê as escritoras do seu tempo e da sua
faixa etária?!”
“São todas umas nerds ressentidas com caras e óculos de
velha na ponta do nariz empinado, em cima de corpos de crianças que ainda não
se arriscaram pelo verdadeiro terreno do sexo selvagem. As escritoras do meu
tempo são umas imbecis que passam mais tempo se escondendo atrás de seus
escudos construídos em blogs e sites de relacionamento. Leem meia dúzia de
coisas exóticas, citam os clássicos o tempo todo e alardeiam para todo o lado
os seus mestrados e doutorados precoces. Fazem gênero de avançadinhas, mas são
mais conservadoras do que o Papa em seus discursos. Criticam o tempo todo as
mulheres bonitas, chamando-as de fúteis, enquanto o que mais queriam era estar
no lugar delas. São extremamente amargas, más, agressivas e castradoras, e carregam
uma ameba no lugar da autoestima. Como posso ter prazer em lê-las?!”
“[Silêncio]”
“Quer andar mais um pouco?!”
“Pode ser.”
“Preciso passar na casa da minha mãe para pegar umas
calcinhas minhas que deixei lá para ela pôr na máquina de lavar. É aqui perto.
Quer ir comigo?!”
“Ahm... eu pensava que as mulheres lavavam as suas calcinhas
durante o banho e deixavam para secar dependuradas na torneira do chuveiro.”
“Ah, então você é um desses nerds de banheiro, não é?!”
“Como assim, nerds de banheiro?!”
“Eu conheço vários...”
“Vários?! Mas o que exatamente é um nerd de banheiro?”
“É aquele cara que adora pedir para ir ao banheiro na casa
dos outros, só para ver o que tem lá dentro.”
“Ver o que tem lá dentro?! Mas os banheiros em geral não
contêm sempre as mesmas coisas?!”
“Não exatamente. Eles contêm um mundo pertencente à pessoa
ou às pessoas da casa. Você pode muito bem saber muitas coisas a respeito de
alguém apenas vasculhando o banheiro dela. Lá os segredos são deixados à mostra,
mesmo que se tente escondê-los. Igual àquela coisa de conhecer as pessoas através
do lixo de cada um.”
“E como você sabe se eu sou um nerd de banheiro?”
“Fácil: pelo seu conhecimento sobre calcinhas lavadas no
chuveiro e dependuradas nas torneiras para secar.”
“E quanto aos lavabos?!”
“Eis o problema. Eu odeio os lavabos!”
“Ah, agora você se entregou. Quem de nós é mesmo nerd de
banheiro?”
“Ah, deixa assim. Eu ao menos não fico me excitando com
calcinhas dependuradas em torneiras enquanto estou fazendo o meu cocô.”
“E quem disse que eu fico?! Só porque sei que estão ali não
quer dizer que me excito com a presença delas.”
“Vai mentir para outra, vai. Você acha que não sei que você
fica imaginando a dona da casa dentro da calcinha dela quando está olhando para
ela?!”
“Você é quem está dizendo! Por acaso você fica imaginando o
dono da casa dentro da cueca dele quando a vê no banheiro?!”
“Apesar de ser muito raro um homem deixar a sua cueca à
mostra no banheiro... a não ser que haja lá um cesto de roupas sujas e...”
“O quê, então quer dizer que você mexe até no cesto de
roupas sujas das pessoas?!”
“E onde melhor para descobrir os detalhes mais sórdidos?!
Ah, chegamos. Este é o edifício onde a minha mãe mora. Quer subir ou vai
esperar aqui em baixo?!”
“Acho que já vou andando.”
“Você é quem sabe. Eu volto rapidinho.”
...
...
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