quarta-feira, julho 25, 2012

Lola - Pedacito do meu mais novo livro (em andamento); escrito hoje



Conheci Lola durante o período de férias de inverno. A noite já chegava quando paramos para descansar.

“De que escritoras contemporâneas você mais gosta?!”, perguntei ofegante, dando continuidade ao assunto.

“Nenhuma! Não leio escritoras contemporâneas.”

“Como assim: você não lê as escritoras do seu tempo e da sua faixa etária?!”

“São todas umas nerds ressentidas com caras e óculos de velha na ponta do nariz empinado, em cima de corpos de crianças que ainda não se arriscaram pelo verdadeiro terreno do sexo selvagem. As escritoras do meu tempo são umas imbecis que passam mais tempo se escondendo atrás de seus escudos construídos em blogs e sites de relacionamento. Leem meia dúzia de coisas exóticas, citam os clássicos o tempo todo e alardeiam para todo o lado os seus mestrados e doutorados precoces. Fazem gênero de avançadinhas, mas são mais conservadoras do que o Papa em seus discursos. Criticam o tempo todo as mulheres bonitas, chamando-as de fúteis, enquanto o que mais queriam era estar no lugar delas. São extremamente amargas, más, agressivas e castradoras, e carregam uma ameba no lugar da autoestima. Como posso ter prazer em lê-las?!”

“[Silêncio]”

“Quer andar mais um pouco?!”

“Pode ser.”

“Preciso passar na casa da minha mãe para pegar umas calcinhas minhas que deixei lá para ela pôr na máquina de lavar. É aqui perto. Quer ir comigo?!”

“Ahm... eu pensava que as mulheres lavavam as suas calcinhas durante o banho e deixavam para secar dependuradas na torneira do chuveiro.”

“Ah, então você é um desses nerds de banheiro, não é?!”

“Como assim, nerds de banheiro?!”

“Eu conheço vários...”

“Vários?! Mas o que exatamente é um nerd de banheiro?”

“É aquele cara que adora pedir para ir ao banheiro na casa dos outros, só para ver o que tem lá dentro.”

“Ver o que tem lá dentro?! Mas os banheiros em geral não contêm sempre as mesmas coisas?!”

“Não exatamente. Eles contêm um mundo pertencente à pessoa ou às pessoas da casa. Você pode muito bem saber muitas coisas a respeito de alguém apenas vasculhando o banheiro dela. Lá os segredos são deixados à mostra, mesmo que se tente escondê-los. Igual àquela coisa de conhecer as pessoas através do lixo de cada um.”

“E como você sabe se eu sou um nerd de banheiro?”

“Fácil: pelo seu conhecimento sobre calcinhas lavadas no chuveiro e dependuradas nas torneiras para secar.”

“E quanto aos lavabos?!”

“Eis o problema. Eu odeio os lavabos!”

“Ah, agora você se entregou. Quem de nós é mesmo nerd de banheiro?”

“Ah, deixa assim. Eu ao menos não fico me excitando com calcinhas dependuradas em torneiras enquanto estou fazendo o meu cocô.”

“E quem disse que eu fico?! Só porque sei que estão ali não quer dizer que me excito com a presença delas.”

“Vai mentir para outra, vai. Você acha que não sei que você fica imaginando a dona da casa dentro da calcinha dela quando está olhando para ela?!”

“Você é quem está dizendo! Por acaso você fica imaginando o dono da casa dentro da cueca dele quando a vê no banheiro?!”

“Apesar de ser muito raro um homem deixar a sua cueca à mostra no banheiro... a não ser que haja lá um cesto de roupas sujas e...”

“O quê, então quer dizer que você mexe até no cesto de roupas sujas das pessoas?!”

“E onde melhor para descobrir os detalhes mais sórdidos?! Ah, chegamos. Este é o edifício onde a minha mãe mora. Quer subir ou vai esperar aqui em baixo?!”

“Acho que já vou andando.”

“Você é quem sabe. Eu volto rapidinho.”


...

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