segunda-feira, abril 19, 2010

Lehgau-Z Qarvalho & Simone - Alma Deserta



A luz era cor de barriga de baleia, o branco dos tubos fluorescentes nus. E agora havia um novo silêncio, um silêncio mortal, uma extensão do vácuo em que não havia percepção de acontecimentos, apenas o silêncio da imensidão. E a solidão. A angústia trocada pelo alívio dilacerante de uma paixão sepultada viva. O medo do que poderia ser, e do que jamais seria. E as rimas sem pratos, nem talheres, nem guardanapos. Consumidas com as mãos. E em bocas estranhas. Como próteses dentárias reutilizadas. E as mãos de dedos ávidos, sem utilidade. Feito apêndices que nem sequer inflamarão. E a solidão. Em meio a todos, a muitos. Mas quem não sabe povoar a si, também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão. Há que se aprender. Aprender-se. Desfazer-se de si, para recobrar-se. E, ainda que mergulhado em dúvidas, tirar alguém para dançar.

(Texto e música: Lehgau-Z Qarvalho)

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