quinta-feira, junho 12, 2008

Artificialidades léxicas para uma sobrevida em ré menor

Lehgau-Z Qarvalho

Já não sofre nem se importa com nenhum tipo de preconceito. Seguindo a linha Mark Twain, jamais pergunta de que raça é um homem; basta que seja um ser humano; ninguém pode ser nada pior.

Enquanto isso os generais dos exércitos americanos, derrotados pela inépcia, por tanques fabricados na China, por berros e boatos eletrônicos, por certos mensageiros de bicicleta e, em especial, por alguma paixão perdida em um quarto de hotel barato, marcham rotos pelas ruas poeirentas. Outros, em outra guerra, deixam-se levar por artifícios tipográficos, ou mesmo sintáticos, e sofrem. Pensam que algo aconteceu de fato só porque está impresso em grandes letras pretas; confundem uma possível verdade com o corpo 12; e sem desconfianças mínimas, partem inclementes para o palavrório costumeiro. Carlyle, para não deixar dúvidas quanto às suas influências, informa-o, hoje, de que a democracia é o fruto do desespero da humanidade em não encontrar heróis que a dirijam. Intenta um intraduzível epíteto para o que está sentindo. Fracassa. Carlyle estaria, enfim, certo? A tradução vem em forma de gotas temperadas. Em agosto de 1954 um ditador puxou o gatilho contra si. Para não duvidar da probidade dos próprios sentimentos, elimina a cafeína e o cacau por breves instantes.

O dia é cinza. O fantasma de possessos olhos negros reaparece intenso; no mais das vezes, sentimentos restos; um dia sim, outro também. Os tempos já são mudas, mas há algo ali; algo que não deveria. Toma um pouco de ar com alguma impaciência. Sente que precisa ser seu próprio herói; dita para si. Detona uma seqüência de três acordes maiores, mais um com a sétima, em sua mente, mas não tem coragem de experimentá-los com as mãos; usa-as para cobrir o rosto.

Lembra-se da fábula egípcia contra a escrita, cujo hábito, conforme ela, faz com que descuidemo-nos do exercício da memória e passemos a depender de símbolos. Acredita. Pensa ter encontrado uma pequena saída; aperta os olhos ainda uma vez; e escreve.

Um comentário:

Unknown disse...

Conforme Borges, “Cristo havia dito que as almas, para entrar no céu, devem ser justas; Swedenborg acrescentou que devem ser inteligentes; Blake estipularia depois que fossem artísticas”; eu descubro agora que devem ser tudo isso ao mesmo tempo: devem ser mesmo é Lehgau-Zínicas! :):);)
Beijo