segunda-feira, março 10, 2008

Pathos ululante

Lehgau-Z Qarvalho


E vivera por longos meses uma fantasia absurda criada por um destino fanfarrão. Quisera acreditar em uma felicidade inventada para poder tomar uma decisão que não se fez presente?! Sofrera de mentira. Amadurecera, de verdade. As marcas dos desgastes visíveis em forma de pêlos sem vida (há quem as entenda como charme). As roupas misturadas em um tipo de não-sei-bem-o-que com qualquer-coisa-que-sirva-para-não-sucumbir. Os livros, aos montes, empilhados por toda parte, a demonstrarem a sua ineficácia. Sua ignorância. Os olhos em formato de supernova: uma explosão de tal forma violenta e luminosa que o seu brilho pode ultrapassar o brilho de uma galáxia inteira, embora represente uma morte.

Inventara uma possibilidade e perdera-se em sua própria criação?! Tornara-se um buraco negro: um objeto cuja gravidade é tão forte que a sua velocidade de escape é superior à velocidade da luz. Invisível por definição. Contudo, pode ser observado indiretamente pelo efeito que produz em sua vizinhança. Por vezes, devastador.

Mas a sensação nem era tão essa. Sentia-se mais como uma estrela envelhecida que completara sua órbita; perdida, então, em um vasto conjunto de outras estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar, sem muita conexão provável entre si, embora gravitacionalmente ligados. Pretendera mudar de galáxia.

Sentia inveja dos matemáticos. Dos cartesianos com suas certezas ululantes. Gostaria, naquele momento, de possuir alguma. Mínima que fosse.

E talvez tivesse uma: “tudo o que se diz poderia ser dito em apenas um terço do que se falou” (Lehgau-Z Qarvalho). Mas isso de nada adiantava no desfeito momento. Afinal, quem teria levado a melhor? Ele, ela ou eles?! O jamais saber poderia ser o que mais incomodava. Mas não era. Não era só isso. Começava a formular uma teoria: a de que teorias são inúteis quando se trata de Pathos; embora de nada mais dispomos sobre o assunto.

Sentiu o vento a soprar-lhe dores aos ouvidos. Olhou para o céu carregado de nuvens plúmbeas e, antes que a chuva pudesse causar-lhe mais algum dano, fechou as janelas; congelou os batimentos cardíacos; programou o cérebro para funcionar a plena potência; e pôs-se a sobreviver.

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