segunda-feira, outubro 15, 2007

Sons que nos chegam; silêncios que nos levam

Por Lehgau-Z Qarvalho


E ele cruzou a fronteira vizinha, atravessou a Autocomiseração e a Insegurança, entrou na Boa Fé, alcançou de trem Auto-estima e Elevada, e depois prosseguiu até Confiança. Percorreu a cavalo dois mil quilômetros de estepe marginal, passou pelos Dias Repletos, entrou nas Noites Supremas, viajou por quarenta dias até alcançar o lago das Doces Lágrimas, que as pessoas do lugar chamavam: o desencanto encantado. Desceu o rio Vida, costeando a fronteira Dialética até o oceano, e, quando chegou ao oceano, deteve-se no porto de Estou quase lá, por onze dias, até que um navio de contrabandistas ideológicos o levou ao cabo Sensação, na costa oeste do Ventrículo Esquerdo. A pé, percorreu estradas secundárias, atravessou as províncias de Amar, Éh e Tuhdo, entrou na de Vontade e alcançou a cidade de Profundo Desejo, circundou-a pelo lado oriental e esperou dois dias por uma mulher de olhos ocidentais e mãos macias, vestida de preto, que o vendou e o levou ao povoado de Amores Difíceis.


Chegando lá, foi apresentado a Baricco; e a Calvino, que lhe contou: A aventura de um poeta. Em seguida, ela o vendou outra vez e afastaram-se dali.

Caminhavam lado a lado quando ela perguntou:

“O que ele disse?! O que você escutou?!”

“Silêncio”, ele disse. “As histórias têm um silêncio que se ouve”.

Um comentário:

Unknown disse...

Lindo silêncio.
Ana Lúcia.